29/04/2011

E o beijo???

Acordei cedo, como faço normalmente para levar filhos à escola e, óbvio, logo às 6h já fui espiar o casamento do principezinho Guilherme e sua linda gata borralheira. Quando vi, lá estava eu de olhos grudados nos detalhes da cerimônia, bem como a gente faz na noite de entrega do Oscar: malhamos, mas assistimos.

O casamento não foi assim um show de Paul McCartney, mas tava interessante de ver. Diria que foi o segundo casamento do século (o primeiro foi o do Shrek).

Deu vontade de encarnar a colunista social e fazer uma cobertura ácida do evento. Então fiquei atrás de gafes, breguices e excentricidades, mas me rendi a um casamento bonito e até normal, não fosse a quantidade de protocolos invioláveis. Nada de tropeços na entrada da igreja, nem chuva de pétalas vermelhas. Necas de beijo de língua na sacada do castelo. Nada que pudesse ser mal falado, nada, nada, nada. Vamos aos fatos:

A abadia de Westminster estava lindíssima e tropical - plantaram árvores verdejantes ao longo das naves laterais. As crianças estudaram impecavelmente os cânticos e receberam no rosto pó compacto para aspecto de anjos.



Os vestidos das convidadas de forma geral estavam como a comida na Inglaterra, meio sem graça, mas os chapéus... hum, os chapéus! Divertidos, apetitosos. Tinha chapéu de laço gigante apoiado no nariz, chapéu da Cruela Devil, chapéu de três pontas. Até o bispo de Londres portava um gorro em pink moderníssimo! E a mulher do primeiro ministro inglês foi a única sem chapéu, glup. No cabelo de Kate, depois de toda aquela polêmica com a sogra, não havia as desejadas flores, mas a tiara de diamantes emprestada da rainha Elizabeth (prova de que Camila Parker-Bowles ainda tem autoridade).

No trajeto de carruagem até o palácio de Buckingham, os cavalos se engalfinhavam, mas o casal seguiu descontraído, abananando e sorrindo como manda o protocolo. Nada de ficar de pé na carruagem como eu faria, assobiando para o povo. Nem movimentos efusivos com braços estendidos, nãnaninanã. A mão abanava discretamente como previsto no manual real: 10cm de distância do queixo, medido a partir do dedo médio, em movimentos semi circulares. Irretocável.

Ao final, pensa que teve cena insinuante na sacada? Nada. Uma micro bitoca de 2 (dois!)segundos e era isso. E o noivo nem limpou com a mão como um resto de catchup no canto da boca. Realeza não dá o que falar.

Mas vamos combinar: eles não estavam sozinhos na cena íntima- eu também morreria de medo daquela Rainha em pele de pintinho amarelinho ao lado, com seu olhar fuzilante. Ei, psiu, pega o lenço que caiu no chão, e apoia aqui o trocadilho: a coroa é assustadora.



















23/04/2011

Coelho da Páscoa não existe

leaofechandoos olhos

Que saudade do tempo em que eu era um pingüim!

Naquele trabalhinho da 2ª série estava respondido em garatujas, mas parecia sério: “Com que animais sua mãe se parece? Minha mãe é um pingüim porque me esquenta muito; ela também é um tigre porque é braba e corre bem; é uma coruja porque me cuida quando estou dormindo. E é um polvo porque me abraça demais.” Guardei a prova para quando minha filha ficasse maior e me visse com outros olhos.

Pois o tempo passou e – bingo! - hoje em dia sou um típico jumento, às vezes uma víbora, na maioria das ocasiões, ameba. É isso mesmo, a adolescência chegou à minha casa. Aos poucos se adota um dialeto estranho, do tipo “quem mocou meu tênis na tulha”? Ou: “não pilho de jantar agora” e, confesso, eu mesma me pego exclamando “alcança esse bagulho aí” (comunicação é a lei da selva). O habitat em casa está visivelmente diferente: skates pelo chão, rock em alto volume (veja bem, não estou falando de Mozart), e pizza de manhã. Uma selvageria.

Mas eu seria uma anta se achasse que está tudo errado. Lembro bem de quando completei treze anos e troquei a foto dos meus pais do porta-retrato: coloquei minha adorável hamster Bianca. Uma pequena atualização nos referenciais (oh, mundo cão, eu não sabia que meu dia também chegaria!). Fui mais espírito de porco ainda: pendurei um pôster dos roqueiros malucos do ACDC na porta de fora do meu quarto. Era o mesmo que uma placa de “Não Entre”, apenas ilustrada. Quem duvida da clareza do recado? Nunca entre. Nem batendo antes.

Eu sei como funciona a fase adolescente e não chego a me assustar, porque ela passa. (A propósito, tem vezes que dá vontade de ser um camaleão, mimetizar uma bromélia de sombra e ficar bem quietinha, esperando a adolescência ir embora).

Sábia e rápida é a mãe-salmão, eu vi no National Geographic Channel: põe seus ovos sobre um ninho de pedregulhos e, em ato contínuo, recosta-se docemente para morrer no fundo do mar. Ali termina a missão da mãe-salmão, logo no início da maternidade. Ela não fica para ver seus filhos recusarem um beijo de manhã ou para ouvir-lhes sentenciar que sua técnica de subir a correnteza já está ultrapassada há mais de um século. Como não sou espécie assim evoluída, ainda opto com alegria pela maternidade italiana tradicional: filhos sentados em bando à mesa, todos falando ao mesmo tempo, e de boca cheia.

Tem muita coisa “animal” na adolescência. Mas o que me choca nessa ebulição de hormônios é a inversão abrupta das referências dos pais-heróis: o forte tigre de repente vira um moscão tonto e não há muito o que fazer a respeito. Adultos não sabem das coisas e não fazem parte da matilha. Menos ainda se forem da espécie “pais”.

Então, durante a adolescência, esqueça a cena da galinha com os pintinhos embaixo das asas, eles vão passar a Páscoa “com a galera” em Atlântida. Foi-se a época do abraço de urso matinal. Pais serão ouriços do mar por algum tempo.

Parece que sobraremos eu e a gata, aos domingos, na frente da TV, de pantufas. Eu lhe farei cafuné e ela me fará companhia. Na vida animal é assim: quem não tem cão caça com gato.


PS: procurou coelho da páscoa nesse texto? Já disse, não existe. É mais uma dessas ilusões da vida. Feliz Páscoa!

22/04/2011

Sexta-Feira Santa

SEXTA-FEIRA SANTA
(Tatiana Druck - Par e Impar/2010)

Não quero te render numa teia
de assuntos

quero ser tua mulher-aranha
parceira

te tecer
mosca e caranguejeira

despe, incendeia, enlouquece
devora a presa

e então passeia

pela feira
com ar de santa

numa sexta





15/04/2011

SERIAL KILLER - em tempos de desarmamento


Que o pessoal da campanha de desarmamento não me ouça, mas eu não vivo sem o trabuco que guardo sobre o armário da sala. Nem vem. Nada como ter o poder na mão. É uma questão de autodefesa, é claro, mas confesso que também tem a ver com vontade de matar: aaahhh... não há sensação mais revigorante do que exterminar vidas assim.

Pode me chamar de assassina, revoltada, desequilibrada, o que for, mas há noites em que sonho com as vítimas caindo indefesas no chão. Penso naqueles corpos estatelando e então acordo com um sorriso implacável no rosto. Por favor, senhor Sarney, nem pense em tirar a arma do alcance dos meus objetivos.

Eu sei da importância da vida, do risco das práticas de violência, e que tem a coisa da perversidade e tal. Mas confesso que me dá água na boca quando enxergo um mosquito rondando e penso que com um só golpe sua vida poderá ser eletrocutada. Então corro até o armário e pego lá de cima a tal raquete elétrica: tzááá! – detono o inseto que me roubaria o sangue. É mortal. Melhor que bazuca. Êta sensação de poder.

Tem toda uma técnica de manejo para o peteleco elétrico: tem que chegar por trás do moscão. Não é requinte de crueldade, é precisão. Se não o mosquito percebe e frustra a emboscada. A regra é: abordar por trás, em silencio, sem pânico, e com convicção. Sim, sim, parece hediondo matar por trás. Mas e eles, que atacam enquanto estamos dormindo? Sangue por sangue, sou mais o meu. Fora a sensação de extermínio, que não tem preço.

Bom mesmo é quando estão em bando, três ou quatro, que aí vira chacina. Vão tombando em série, que delícia. Ninguém sai impune. Autoridade se adquire com a arma na mão. Sem isso, estamos vulneráveis.

E não me venha falar de tamanho, prevalecimento, desequilíbrio de forças, e blá blá blá. Injustiça é levar ferroada sem poder morder de volta o inimigo porque ele voou para trás da geladeira ou passou por baixo da porta. Cada um com suas armas. Deixa eu manter a minha em cima do armário.

14/04/2011

Chove

Gosto da chuva enquanto água. Não gosto do desconforto que ela provoca na vida, nos deslocamentos, nos horários.
Gosto que a chuva limpe, mas não gosto da umidade que põe nos cabelos nem nas lâminas de aquaplanagem.
Gosto da purificação, não da lambança de capas, botas e sombrinhas.
Gosto do frescor da chuva, mas não da nuvem preta que acompanha sua presença e escurece o resto do dia.

Bem que a chuva poderia ser feita de água e não de lágrimas.

12/04/2011

notícia boa

Recebi com muita alegria a notícia de que o poema "Olhar Resposta" foi classificado em 1º lugar no XXVI Concurso de Poesia Brasil dos Reis, no Rio de Janeiro. A solenidade de premiação será em maio e, se tudo der certo, estarei lá! No dia seguinte, é oferecido pelo Ateneu Angrense de Letras e Artes um lindo passeio de veleiro pela baía de Ilha Grande, com almoço na Gipoia. É nóishhhh...
Após o evento, publicarei neste espaço o poema vencedor.

09/04/2011

O DESFAVOR DA NOTÍCIA

A cada manchete de jornal que leio sobre o horror ocorrido na escola pública do Realengo dá vontade de comprar todos os exemplares e trancar num depósito. Se eu pudesse, proibiria a divulgação do fato. Tenho medo do quanto ele pode influenciar outros insanos a fazerem o mesmo. Posso estar enganada, mas minha sensação é de que a veiculação de uma atrocidade dessas sugestiona mais malucos a cogitarem a notoriedade post mortem.

É claro que se trata de um fato real e não se discute que é excepcional, grotesco, um desequilíbrio de conduta com inúmeras causas; e a psiquiatria está aí para tentar dissecá-lo.

Entendo que há uma necessidade coletiva de acomodar esse acontecimento monstruoso dentro das nossas cabeças mortais. Buscamos explicações. Estamos sem palavras, então lemos e ouvimos, para crer.

É claro também que a mídia vive da notícia, e que informação é informação. Sei que nós, os leitores, compramos e bebemos o sangue das tragédias, por mais nauseante que seja a sensação depois. A curiosidade é humana. O sensacionalismo é sedutor.

Mas a mídia também forma opinião e influencia comportamento social, sobretudo em crianças e jovens. Estudos nos EUA demonstram que até 30% das ocorrências de atos de violência, sexo e uso de drogas são atribuíveis à influência da mídia (sic. Comportamento de Risco na Adolescência, Jornal de Pediatria 77, RJ, 2001). Sabe-se que a mídia tem poder sobre comportamento e cultura, mesmo quando atua na retaguarda, após o fato. No Brasil foi o primeiro caso de chacina desse tipo mas, e se essa onda pega? Dizem que, numa dada época em Porto Alegre, virou moda suicídios no viaduto da Borges de Medeiros procedido da publicação da carta de despedida pelos jornais locais. O suicida enviava suas derradeiras palavras à Zero Hora e ao Correio do Povo e dirigia-se à ponte para o último salto. Parece que a notoriedade assegurada pelos jornais, encorajava.

Tenho evitado TV, jornais e revistas, é demais para o estômago. Além disso, fico desconfortável com essa sensação ruim de má influência comportamental. Tenho medo que essa modalidade de suicídio a la homem-bomba seduza outros olhos fracos e vire moda.

08/04/2011

Fernanda LimDa




Se eu tivesse lábios como os da Fernanda Lima

não pronunciaria palavras roucas,
não sambaria na avenida pintada de purpurina
nem animaria auditório de loucas

Eu apenas sorriria com os cantos da boca para cima.




07/04/2011

Dia Mundial da Saúde


É véspera de Páscoa.   Patrick, 10 anos, pede de presente... um coração.

Patrick deveria pedir ovo de chocolate, balas de gelatina, jogo de videogame, um IPod Nano,  mas ele pede um coração. Não há agrado mais vital para esse menino. Nada lhe faz mais sentido. Há pressa em viver.

Os pais, com o coração na mão, aguardam por doação desde 2009, na lista de espera de transplantes.
No Brasil, a cada milhão de pessoas, apenas sete são doadoras. E isso que o índice subiu recentemente. Mas é muito pouco. Há mais de 70 mil receptores aguardando na fila. Faltam consciência e atitude individual para a doação e, claro, também falta investimento do governo no sistema.

Saibam: tudo o que há em mim está disponível após a morte. Levem as roupas que visto, as poucas jóias, minha coleção de livros preferidos, mas por favor levem também o fígado, o pâncreas, as córneas. Pulmões, rins, o que servir. Já estou em pedaços por conhecer a dor de Patrick. Viver é um privilégio, e doar é o mínimo que posso fazer em troca da vida que tenho. Levem meu coração. Mas não hoje, que está em ritmo descompassado, espasmódico, sistólico, disforme. Levem após a morte.

De coração partido, rezo por Patrick. E rezo para que as pessoas em geral estejam mais atentas à dura realidade dos que necessitam daquilo que elas nunca mais vão precisar. Doem órgãos após a morte. Não dói. E ainda é uma forma de perpetuar. Há gente necessitando a todo instante.

Desejo que um coração nobre chegue urgente ao corpo de Patrick. Cada minuto já é bem mais do que ele deveria esperar por esse presente. Tum-tum, Tum-tum, é o Tic-tac de Patrick.