23/06/2011

FERVURA EXISTENCIAL

vulcao É assim. Um dia você acorda com um mal estar, um aquecimento por dentro, gases e, de repente, puf! - explode. Normal. É o ápice de um processo de reequilíbrio. Elimina-se o conteúdo repentinamente desordenado e as coisas voltam à santa paz de antes.

A natureza sempre busca o equilíbrio, não seria diferente com o vulcão. Dentro da terra há um magma fervendo em calor absoluto - a superfície que habitamos é apenas uma crostinha, não se engane com a segurança do chão onde pisa. Eis então que o magma ferveu mais, e mais, e liberou gases, e procurou saída, algum buraquinho - tal como o corpo humano faz para expulsar seus desagrados – e veio a erupção em forma de lava, cinzas e poluição espontânea.

Hoje estamos, cof, cof, cof, respirando essa fumaça impactante e nos intoxicando de reflexões bobas a respeito da existência. Fervemos a mídia e nossas cabeças com questionamentos abismados, como se os desastres naturais fossem coisa contemporânea, moda nova do planeta, alguma revolta dos Deuses. Geeeente, é simplesmente a Terra se reordenando normalmente, como faz há quatro bilhões de anos! O ego humano é que tem dificuldade de aceitar que nós, os seres inteligentes, não passamos de insignificantes grãos de areia no deserto.

É duro saber que não podemos tampar um vulcão com o dedo, nem segurar com a mão os terremotos, não é mesmo? Nossa característica auto-centrada tende sempre a achar que estamos no epicentro do controle, lá em cima da torre de comando do globo - tsc, tsc, tsc, pretensão tola... Então de repente vem a força da natureza mostrar quem é que manda no campinho. E daí ficamos meio abobados, aquela cara de “ah é, é?...”

A verdade é que o ego crê que somos atores principais quando somos meros figurantes do planeta. Mais precisamente, hóspedes. Estamos aqui de passagem, como já estiveram os Dinossauros e outras espécies de vida sobre a terra. Ora, o Homem habita esse planeta há apenas 30 mil anos (contando desde os caras da pedra lascada), enquanto os Dinossauros, por exemplo, perduraram por quase 200 milhões de anos. Ou seja, nesse albergue chamado Terra, somos visitantes de um final de semana, perto dos dinossauros. O planeta é um hotel rotativo, com critérios naturalmente competitivos para o rodízio.

Eventos que não estão sob o controle humano ocorreram e ocorrerão naturalmente, trazendo novas espécies de vida adaptáveis. Sabe-se de pelo menos cinco extinções em massa na Terra, a última delas acabou com os Dinossauros, e isso já foi há 65 milhões de anos. Calcula-se que a Terra terá condições naturais de suportar vida por mais uns 500 milhões, sabe-se lá se seremos nós os hóspedes até lá.

Não precisamos ter pressa, mas é sempre bom lembrar ao ego que estamos de passagem. Então a sabedoria é viver o momento presente, a nossa vez, em estado de relax - como uma temporada de férias. E aproveitar com alegria o nosso tempo sobre a Terra, antes que cheguem os meteoros e não reste nenhum poderoso ser humano de pé para, sabe como é, dar um peteleco no interruptor e apagar a luz - do sol.terra e meteoro     

03/06/2011

Arriba, Peña !!!

Não é só porque o namorido é uruguaio e torce pelo Peñarol, o que fazemos juntos desde que meu Grêmio ficou pelo caminho – e, ora bolas, no inverno faz toda diferença um casal torcer pelo mesmo time sob as cobertas. Essa circunstância por óbvio fortalece minha convicção. Mas tem também o merecimento da equipe, aliado à natural proteção dos mais fracos, que alivia a alma considerando que futebol é cada vez mais um business de cifra grande, com bolão pra cá, bolão pra lá - no bolso de dirigentes e atravessadores que não jogam um ovo.

 

Peñarol tem limitações técnicas, todos sabem, mas o time nunca disse ser mais do que é. Tem um pacto com a torcida do tipo “somos o que somos, se quiserem torcer assim mesmo, vamos dar o nosso melhor”. Peñarol é exatamente isso que apresenta, e vem chegando talvez com a mesma modéstia com que chegaram os uruguaios ao Maracanã na Copa de 50, despacito no más.

E como se não bastasse, além da humildade, coragem e garra, Peñarol ainda tem o gênio Alejandro Martinuccio, que é tudo-o-que-eu-queria-ser-quando-crescer (na carreira sênior do futebol amador feminino do Roda Sociedad, entenda-se) - isso se não der para ser cartola, para não suar tanto, sabe como é.

Por fim, guiando minha torcida pelo Peña ainda tem a causa humanitária, de socialização da glória. Assim como torço para que não se acumule a Mega Sena em mais de 10 milhões para que outras pessoas tenham o sabor da sorte grande, acho que Santos já teve demais. Alcançou a marca dos 10 mil gols, pariu Pelé, lançou Robinho, criou Neymar. Agora é hora do Peñarol, depois de 24 anos sem esse título, colocar a mão na Taça e comemorar o renascimento.


Pode ser problema de visão turva, mas acho que vi uma zebra preta-e-amarela caminhando despacito por aí...