- Vamos, Bicho. Acorde, já é março.
Esticou os braços e deu um longo e
selvagem bocejo.
-
Março?
-
É.
-
De que ano?
-
2015.
Arregalou
os olhos, saltou abruptamente e sacudiu a cabeça com indignação:
-
E posso saber por que me deixaram dormir tanto?!?
-
Bem.. achei que estavas hibernando. Resolvi respeitar o processo.
-
Hibernando? Atravessamos dois verões desde a última postagem e tu acredita mesmo que
eu tava hibernando? Diz aí que mané de bicho teria um metabolismo desses?
-
Bom, ...ãnh.. eu...
-
Isso mesmo, você que se assuma! Não me chamou antes porque não queria o
trabalho de me cuidar, não foi?
-
Hum... um pouco.
-
Pois então reconheça sua fraqueza. Sua incompetência. Sua preguiça.
-
Ok, Bicho. Tive alguns imprevistos, percalços, uma bagunça momentânea na vida,
entende? Não, não entende, você não entenderia uma vida humana.
-
Sou Bicho mas não sou burro.
-
Tá certo. Você tem razão. Então apenas entenda. Não me julgue. Prometo que não vou culpá-lo
por dormir tanto. Foi minha a responsabilidade não sacudi-lo antes - está bem
assim? Afinal, eu tenho a força e..
-
Ôp, ôp, ôp.. pó pará!
-
O que?
-
Primeiro de tudo: temos dúvidas sobre quem
tem a força. Lembra?
-
Ok, vou deixar a questão em aberto só porque você está acordando de mau humor.
-
É um bom começo de conversa.
-
E qual outra concessão ainda te devo, Bicho?
-
Ah não, não, sem essa de vitimização. Somos Bichos ou somos insetos?
-
Bichos. Digo, você é um Bicho.
-
Então tá. Chega de mimimi. Já estamos em março e há muito o que fazer. Pega a
vassoura, vamos dar um jeito nisso aqui.
-
Falou, Bicho.