25/08/2015

DEEZ NUTS FOR PREZ



Eu que há anos carrego foto de Barak Obama na carteira, andava meio perdida por não ter para quem torcer na próxima eleição presidencial dos EUA. Donald Trump com seus chiliques e extravagâncias não me representa (tenho a sensação de que sua primeira medida será um muro-de-berlim na fronteira com o México).

Hillary Clinton até teria meu apoio, mas ela cortou o cabelo igual ao meu - não gosto de pessoas invejosas.

Então trato de ir me conformando com mais uma perda de referência política, me despedindo daquela imagem gloriosa de Obama - o sorriso lindo e confiante nos pronunciamentos, a elegância nas declarações, a firmeza nas medidas necessárias. Gosto de gente assim: assertiva, bonita, humana. Gosto que ele manda as filhas arrumar suas próprias camas. Sou Obama de Dakota ao Alabama. O fim do seu mandato vai me trazendo uma tristeza melancólica como o último raio de sol num entardecer de inverno.

Eis então que meu vácuo existencial-eleitoral ganhou um novo alento: “Deez Nuts” entrou na corrida para a presidência! 

Aos 15 anos, o garoto Brady Olson mostra a coragem, a criatividade e o ímpeto de um grande líder: tomou emprestado o nome do pai e inscreveu sua candidatura como partido independente. Uhul, isso é que é balls!

Se fosse no Brasil, chamaríamos a iniciativa de molecagem, mas nos EUA - what the fuck! - Deez Nuts ganhou o imediato respeito do eleitor: teve 9% das intenções de voto na pesquisa da Public Policy Polling. (Come on, mesmo que esse índice decorra de um óbvio inconformismo social – o famoso “voto cacareco”, tipo Macaco Tião dos anos 80 - 9% não é coisa pouca, vamos convir: maior aprovação do que a presidenta de um grande país cujo nome não vou citar para não ser indiscreta).

Fecha o parágrafo e volta à questão.

Como faço com tudo aquilo que não entendo (com exceção de fórmulas matemáticas) fui me informar sobre a gênese da coisa. A expressão “Deez Nuts” (“This Nuts”), meio hiphoper, significa algo como “esses malucos”, mas ganhou personalidade e relevância ao ser verbalizada de um jeito bizarro por Welven Da Great, um simpático jovem com deficiência intelectual. Seu vídeo viralizou no Instagram. Veja em https://www.youtube.com/watch?v=4v8ek9TEeOU

Eu que vivo de perto as agruras da DI, logo me preocupei com uma possível exposição perversa da deficiência mental do rapaz. Então fui atrás de mais dados. Até que ouvi do próprio Welven que está feliz com a fama – tem sido compartilhado por ídolos que jamais sonharia ter contato. À sua maneira, sente-se honrado, recebe convites inusitados e passou a faturar US$4.500 por cada entrevista que concede. Nesse contexto, gostei ainda mais da origem partidária de Deez Nuts. 

É uma pena que Brady Olson tenha que esperar mais vinte anos para se candidatar validamente. Teria meu apoio desde já. Perguntado até onde iria com a brincadeira, o líder respondeu com o sábio oportunismo de um orador de palanque: “até onde a América aguentar”. :)  Go for it, dude!



09/08/2015

BRINCADEIRA PARA O DIA DOS PAIS



Gosto de desafiar meus filhos com uma brincadeira que tem revelações filosóficas interessantes. Pergunto: se você tivesse que escolher uma só fruta para comer a vida toda, qual seria?

Pode parecer simples, mas responder ‘morango’, ‘uva’ ou ‘bergamota’ é algo bem desesperador (mesmo que em hipótese), porque todo exercício que pressupõe exclusões gera o imediato sentimento de perda, além do medo de errar. Ou você jura que passaria tranquilinho o resto dos seus dias à base de jaca?

Outra: se tivesse que se vestir com a mesma cor para o resto da vida, qual seria? Até soa fácil. A gente se imagina de azul, respira requintado e confiante por alguns minutos, mas de repente não, não, socorro, faltará alegria. Aí lembra do vermelho - vibração, chama, sedução, yes! - mas logo conclui que a coisa ficaria russa com tanto excesso de personalidade. A resposta mais confortável nesse caso tem sido ‘branco’, mas mesmo ele, todo limpo, todo santo, todo em paz, é a nítida lacuna das cores – e diga aí, quem se veria feliz assim tão puro e imaculado por toda uma existência?

É engraçado pensar. E brincando, brincando (literalmente), dizemos as maiores verdades.

Por isso, proponho como brincadeira para esse Dia dos Pais a pergunta mais difícil do nosso questionário caseiro: com qual palavra você descreveria seu pai? A dificuldade está na síntese, pois reduzir qualquer pessoa a um só vocábulo é impossível, imagine sendo ela o seu pai. Mas tente.

Já fiz meu exercício.

Antes de tudo, devo esclarecer que na brincadeira familiar sou aquela que pensa ‘banana’ mas responde ‘laranja’ com medo de faltar líquido na opção da fruta. No quesito cor, escolho ‘cru’ quando na verdade gostaria de dizer ‘amarelo’ – meu pigmento preferido. Assim, a expressão com que eu própria me identifico bem que poderia ser ‘dúvida’ (que é um conceito, aliás, que adoro, pois contém o sábio princípio da filosofia), mas acabo me traduzindo como ‘agridoce’, que é um termo meio em dúvida sobre si mesmo. 

Então, para o meu pai - uma pessoa tão maravilhosa quanto complexa - tive muita dificuldade em encontrar a locução certa. Busquei entre seus adjetivos os mais fortes pra mim: protetor, carinhoso, inteligente, sensível, dedicado, generoso. Diversos atributos poderiam definir meu pai. Gostaria de escolher vários, mas a brincadeira é concentrar-se em um só, então penso que ‘integridade o representaria bem.

No substantivo ‘integridade’ múltiplos traços (tão próprios dele) estão embutidos: o caráter, a justiça, a honestidade, a coerência, o juízo, a confiança. Meu pai é conhecido entre os amigos por ser aquele com quem se pode jogar par-ou-ímpar pelo telefone. Não precisaria dizer mais.

Mas como sou movida a dúvidas e emoções, escolhi para o pai a palavra mais clichê deste dia: Amor.

 Sei que para um bom pai essa palavra basta. 



06/08/2015

EM CRISE DA CRISE



Ando cheia de ouvir (e de falar) mal da crise no Brasil. Já basta ter que respirá-la todo dia. Entrei numa ressaca moral, sabe assim? Um cansaço, uma repugna, quase aversão - tipo quando uma pessoa muito chata vem vindo em sua direção pela mesma calçada: “aaai, nãão, lá vem a crise!”.

Nesta semana uma amiga do Facebook anunciou que deixaria para o noticiário a tarefa de divulgar os fatos decepcionantes do cotidiano e postaria somente coisas boas: ela fala de sorrisos dados, gentilezas presenciadas, de investimentos ocorridos no país, de novos negócios inaugurados com otimismo. Achei lindo passear por sua timeline - parece uma rua ladrilhada com pedrinhas de brilhante.

Daí li a coluna do Nizan Guanaes e também gostei de saber que ele se empenha diariamente para manter a motivação (própria e de sua equipe) através do otimismo: “Nessas horas precisamos de Silvio Santos e Faustão em nossas organizações. Temos de ser verdadeiros animadores. Espalho mensagens anticrise até nos banheiros. Celebro cada miniconquista. Porque senão a gente fica todo dia celebrando a crise”, conclui. E cita o recente episódio do ataque do tubarão: “se o surfista tivesse se desesperado, tinha morrido. Ele foi lá e bateu no tubarão.” E assim Nizan inicia sua jornada: “Bom dia, crise. Vamos à luta. Vamos pra cima do tubarão.”

Então me lembrei de um livro de autoajuda para salvar casamento (não deu certo pra mim, kkk, mas pode funcionar nesse caso). Dizia algo assim: quando um casal se reencontra no lar e pergunta “como foi seu dia?”, há dois caminhos. Ou você menciona tudo que deu errado (é o que comumente acontece) e instaura aquele climão, ou você valoriza o que houve de produtivo (sempre há) e contribui para a leveza do ar.

Acho que a dica vale pra tudo na vida. A velha fórmula de ver a parte cheia do copo. De pensar positivo. De emanar e atrair energias boas.

Não se trata de tapar o sol com a peneira, de polianar ou viver no mundo do faz de conta – nem seria possível, sentimos a crise na carne todo dia, eu, você, e a vó do badanha. Basta apertar o interruptor de luz ao acordar que a crise se acenderá (literalmente) e ficará ali, alumiando sua cabeça com aquele reajuste tarifário de 39,5%.

Aí você, forte que é, apaga a luz e sai de casa cantarolando Bob Marley every little thing is gonna be alright e parece que a crise some. Então entra no supermercado e tcharan! se encontra com ela de novo – e não adianta mudar de corredor porque a crise estará em todas as gôndolas do comércio. Toda$.

Tampouco se trata de alienação, Deus me livre, só acredito no poder da mudança através da consciência e da atitude (tá, confesso: creio num pouquinho na sorte também). Mas não é isso.

Falo de encontrar jeitos positivos e práticos de se relacionar com a crise. De gastar mais fósforo buscando soluções (dizem que na adversidade há sempre grandes oportunidades) do que apenas reclamando. De criar. De usar a rede social para mobilizar ações concretas (passeatas, abaixo-assinados, crowdfunding) e não só para gerar raiva e descrença. De aportar ideias, refletir. Estimular a confiança abrindo brechas no muro das impossibilidades.
Ninguém consegue sorrir com desânimo.

Trata-se, no fim das contas, de acreditar na luz no fim do túnel. Procurá-la com afinco e ainda mostrar aos outros onde ela está.

A luz no fim do túnel nunca será sobretaxada pela inflação e, se depender do seu bom olhar, permanecerá acesa. Porque essa luz se chama Esperança - e a esperança, você sabe, é sempre a última que apaga.

05/08/2015

AMOR É O ALIMENTO MAIS NUTRITIVO



Posso não ter sido uma ‘boa mãe’ em vários momentos dessa longa carreira de progenitora. Sequer fui uma ‘mãe suficiente’ em outras tantas situações, asseguro.

De todos meus atos perante os filhos, o único em que realmente tenho a convicção de ter acertado, foi na amamentação. São inúmeros os benefícios em favor do bebê: imunidade, nutrição, vínculo, paz, acalento, confiança, etc. (há estudos que apontam até capacidade intelectual como vantagem).

Mais do que um acerto, vejo o aleitamento como um PRIVILÉGIO.

Sei o quanto é difícil para muitas mães. Também sei das situações de impossibilidade, como as anatômicas, por exemplo. Conheço mães que gostariam muito de ter podido amamentar seus filhos, que se esforçaram pela causa, e que mesmo assim não conseguiram. Por isso prefiro chamar de privilégio o que muitos consideram obrigação.

Nesta semana mundial do aleitamento materno, venho beber do assunto.

Mas não vou romantizar o quadro (não espere isso de mim). Amamentar dói, na maioria das vezes. Você tem que enfrentar rachaduras, sangramentos, ardências, até que o seio se acostume. Precisa superar aquela fase (desesperadora) de descompasso entre a produção de leite e a demanda do terneiro-bebê. Lembro do susto diante da mama empedrada e meu recém-nascido dormindo o sono dos justos: “Deus do céu, quem vai resolver isso agora?”. Você tem que aceitar sua condição de provedora no sentido mais primitivo que há. E sim, precisará “ordenhar-se” - por mais bovino que isso possa parecer.

Só perseverei na missão porque o Pequeno Príncipe que habita minha alma sussurrava: “É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas”. Eu queria muito conhecer as borboletas. “Dizem que são tão belas!”, ele provocava.

A natureza ainda me ajudou com uma fartura que permitiu levar só no peito cada uma das crias pelos seis meses recomendados e mais um pouco, thanks God.

Penso que não há experiência mais grandiosa em todo o pacote da maternidade. Essa conexão sublime entre a mãe e seu rebento é de uma transcendência existencial que nenhuma outra vivência até hoje me mostrou. Amamentar seria a experiência da vida que eu mais gostaria de reviver.

Por isso, recomendo. Se for algo viável para você, querida mamãe, não pense duas vezes: agarre com as duas mãos a oportunidade e use os dois seios que a vida lhe deu.


Agora, se não for possível, bem, apenas ame. Ame seu filhote como só uma mãe é capaz de amar. Porque apesar de válida a campanha pela amamentação, sabe-se que o Amor Incondicional é, definitivamente, o alimento mais essencial e nutritivo que uma mãe pode oferecer.