Pegamos
a estrada para a serra. A ideia era sair da rotina. Comemorar o primeiro fim de
semana de férias dos filhos com programa típico do nosso inverno.
Passando
o pórtico de Gramado vimos uma família encarangada com casaco, luvas e gorros, tirando
foto em frente ao totem que marcava a temperatura: 19 graus. Certo que turistas
do nordeste.
Daí
pra frente o trajeto foi como mesa de café colonial: salsichão com schimia de
morango; um palhaço em perna-de-pau dividindo calçada com a Coelha que
distribuía balas de menta coladas em panfletos. O Museu de Cera disputando
clientes com o Fondue de Queijo. Cinema 4D e Chocolate Artesanal. Malhas feitas
a mão e Mundo a Vapor.
E
ali perto, na Aldeia – um alce branco alertava na placa - mora o Papai Noel e
sua turma.
Meu
filho comentou: “Gramado anda bem randômico, né?” Achei a expressão um tanto
sofisticada pra definir aquela muvuca toda. Era pra ser um lugar bucólico, de
colonização alemã e italiana. Não uma disneylandia serrana tomada por carros de
som convocando para o Harley Motor Show. Onde estão as araucárias? E as hortênsias?
E os Quatis? Até o Lago Negro ganhou imponentes chafarizes.
Fiquei
preocupada com a falta de coerência cultural na cabeça dos pequenos. Como
explicar que ao lado da Cascata do Caracol fica a Montanha Nevada? E que aquele
calorão não estragará o plano de patinar no gelo? - Crianças, vamos ao
zoológico ver a Onça Pintada em extinção e na sequencia visitaremos os já
extintos Dinossauros (que aliás parece que reviveram e invadiram a serra).
Socorro.
A
cada esquina tem um ponto diferente pra tirar foto bizarra. Como a turma de
bruxas com cabeças vazadas para colocar as nossas. Um chimarrão gigante
jorrando água. Um búfalo selvagem típico do noroeste canadense em frente à loja
de couro. Um cavalo em tamanho real com um gaúcho a pleno galope - ambos
empalhados.
“Era
pra gente sair da rotina, mas Gramado é que saiu, né?”. De novo meu filho e
suas interrogações enigmáticas. Achei o comentário um tanto cabalístico pra
definir aquela aberração. Mas seguimos observando. Uma locomotiva de trem
caindo para fora de um prédio. Índios apaches. Um museu medieval. Um mini
mundo. A cidade toda mais parece uma maquete feita de biscuit.
Bom,
a ideia era sair da rotina. Acho que deu certo. Trenó montanhês x Harley
Davidson; Mambembes x Mamãe Noel; Coelho da Páscoa x Tiranossauro Rex; a gente
só veria em Las Vegas. A preço de euro. E nem teria salsichão com schimia de
morango.
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