08/10/2015

O PREFEITO ENTROU NA ONDA





Assim como Iemanjá um dia devolve as oferendas lançadas ao mar, ontem o Prefeito Fortunati devolveu a prancha de surf oferecida ao Monumento do Laçador durante a Semana Farroupilha - então apreendida pelas autoridades. 

Para quem não soube: o pessoal do Surfari, diagnosticando o olhar frio e parado do Laçador como uma tristeza melancólica de quem nunca conheceu o surf, construiu uma prancha especial para o gauchão. Não só: na calada de uma madrugada fria, os caras botaram-na sob o braço do gaudério, de forma que ele amanheceu louco de faceiro (garantem eles), com pinta de Kelly Slater dos pampas, mirando a estrada para o litoral já com outra vibração. 

A ideia da intervenção, além de chacoalhar a ordem e rir um pouco numa época de tanto cenho franzido, era divulgar o “Surf Criollo” (modalidade em que o surfista é puxado por um cavalo à beira de um açude) e mostrar que esse esporte pode estar mais próximo das lidas campeiras do que se pensa. 

Apesar do tom paz-e-amor do gesto, foi considerado subversivo e a prancha acabou recolhida pela fiscalização. O Prefeito reprovou, alegando risco de depredação do patrimônio público. 

Mas Fortunati, bom coração que é, logo entendeu a brincadeira e seu caráter cultural transformador. Acolheu o pedido público de desculpas dos responsáveis e topou encontrá-los para tomar um mate, conhecer a Associação El Surf Criollo e... devolver a prancha. 

Tudo isso foi feito ontem, sob a torrente de outro lindo projeto exposto na Usina do Gasômetro: o Tampar - do artista Ubiratan Fernandes, que utiliza 130 mil tampinhas de garrafa pet num ondão gigante, com o objetivo de chamar atenção para a degradação e acúmulo de lixo nos oceanos. 

Melhor cenário não haveria. O Prefeito literalmente entrou na onda: subiu na prancha e surfou sobre a instalação da Tampart (https://www.facebook.com/tampartproject).

Já os guris do Surfari comemoraram o retorno do objeto simbólico – quiçá estão armando missão revolucionária na vizinhança, para fazer felizes também os generais José de San Martin (na Argentina) e Artigas (no Uruguai). E a façanha ainda servirá de modelo aos monumentos de toda terra (http://tatianadruck.blogspot.com.br/2015/09/como-aurora-precursora.html).

É que - dizem as lendas gauchescas – depois da ousada intervenção, o Laçador nunca mais foi o mesmo. Afirma-se que sob aquele sisudo bigode de bronze cinzento hoje habita um sorriso sereno e realizado. Típico de quem um dia, mesmo sem sair do lugar, descobriu o mar e a imensidão das possibilidades.



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