“Moro num país
tropical,
abençoado por
Deus
e bonito por
natureza,
mas que beleza.
E em
fevereiro tem carnaval”
Sem sofrimento, pessoal. A gente já sabia. Para
ganhar qualquer Copa hoje em dia o futebol brasileiro precisaria ter menos
'graça' e mais 'raça'. Raça é qualidade dos bravos, atitude de vencedor. E vai
dizer: nosso povo é a coisa mais linda e mais cheia de... que?
Vencer exige a postura combativa dos
sobreviventes. Dos que lutam para seguir de pé custe o que custar - como naquela
fábula da mosca que cai no copo de leite e passa a noite toda batendo as asas
até que amanhece sobre a nata dura. Vivinha da silva. Se a mosca vestisse a
camiseta brasileira talvez não se desse ao trabalho, afinal, era apenas a sua
vida.
Não esqueço a imagem de Álvaro Pereira da
seleção uruguaia no jogo contra a Inglaterra na Copa de 2014: o cara desmaiou
subitamente ao ser atingido por uma joelhada. Quando recobrou a consciência,
viu que estava sendo substituído e, num rompante indignado, o charrua levantou
trôpego e bradou de dedo em riste e exigiu sua permanência em campo. Negou-se a
sair porque aquilo não era um jogo, era sua própria vida!
Observemos: o que faz Neymar quando perde
um gol feito? Passa a mão na mecha loira e sorri com uma carinha fofa de
deboche. A pátria maternal se compadece e acolhe a falha como um colo de vó - e
vamos para o próximo lance, meu filho. Agora, me diga: você já viu o atacante
Rooney sorrir? Nem no aniversário de um ano do filho, pode apostar.
Concentração total. Como um guerreiro celta. Guerra é seu esporte.
Tenho uma tese empírica: o Brasil é um país
mimado, o que se reflete no jogo bonitinho mas ordinário da nossa seleção –
essa garotada que acha que dá pra colher sem plantar, vencer sem suar, driblar
bonito e golear sem a chatice de marcar o adversário. Podemos até fabricar
talentos, mas no fundo o Brasil canarinho gosta mesmo é do cocoricó. Como o galo,
que não põe ovo, mas canta.
Eis o fundamento da tese: somos um país
mimado pelas circunstâncias. Em nossa história não morremos de guerra, nem de
frio, tremor de terra, tsunami, ou bomba atômica. Sobraria morrer de fome, não
fosse o peixe em fartura no imenso litoral, a bolsa família do Brasil
Carinhoso, a banana caindo do pé direto para a mão, a água limpa do côco. Por
aqui, quem faz força é a gravidade. A gente faz é bossa, dança, graça e tudo
mais que termine em som de pizza.
Observemos outros campos: Brasil é campeão
mundial em quantidade de cesariana. Parto normal exige esforço e ainda dói.
Melhor é alguém chegar na hora marcada e abrir a porta com bisturi, não é
mesmo? E confesse aí: entre assistir debate político e um show do Zeca
Pagodinho, fazemos o que? Entre protestar nas ruas por uma reforma tributária
ou seguir o trio elétrico saltitando? Entre ir à assembleia de condomínio ou ver
a novela das oito, hein?
Nós, brasileiros, combinamos mais com farra
do que com garra. Rimamos mais com rede do que com sede. A gente gargalha mais
do que batalha. Por outro lado, todos sabem que o brasileiro é alegre, afetivo,
solidário, criativo, brincalhão, bom amigo. Não fiquemos decepcionados, são
outros atributos e também têm seu valor.
A questão é preparar nossas expectativas
compreendendo a história. Vai ver não nascemos para ser líderes, e sim para ser
livres. Somos bonitos por natureza, não por esforço próprio. Temos graça, não
raça, ora bolas. E entre ‘graça’ e ‘raça’, a raça é a que dá títulos.
Graça dá a festa. E aqui entre nós: a festa
mais divertida que você já viu!!..