09/04/2011

O DESFAVOR DA NOTÍCIA

A cada manchete de jornal que leio sobre o horror ocorrido na escola pública do Realengo dá vontade de comprar todos os exemplares e trancar num depósito. Se eu pudesse, proibiria a divulgação do fato. Tenho medo do quanto ele pode influenciar outros insanos a fazerem o mesmo. Posso estar enganada, mas minha sensação é de que a veiculação de uma atrocidade dessas sugestiona mais malucos a cogitarem a notoriedade post mortem.

É claro que se trata de um fato real e não se discute que é excepcional, grotesco, um desequilíbrio de conduta com inúmeras causas; e a psiquiatria está aí para tentar dissecá-lo.

Entendo que há uma necessidade coletiva de acomodar esse acontecimento monstruoso dentro das nossas cabeças mortais. Buscamos explicações. Estamos sem palavras, então lemos e ouvimos, para crer.

É claro também que a mídia vive da notícia, e que informação é informação. Sei que nós, os leitores, compramos e bebemos o sangue das tragédias, por mais nauseante que seja a sensação depois. A curiosidade é humana. O sensacionalismo é sedutor.

Mas a mídia também forma opinião e influencia comportamento social, sobretudo em crianças e jovens. Estudos nos EUA demonstram que até 30% das ocorrências de atos de violência, sexo e uso de drogas são atribuíveis à influência da mídia (sic. Comportamento de Risco na Adolescência, Jornal de Pediatria 77, RJ, 2001). Sabe-se que a mídia tem poder sobre comportamento e cultura, mesmo quando atua na retaguarda, após o fato. No Brasil foi o primeiro caso de chacina desse tipo mas, e se essa onda pega? Dizem que, numa dada época em Porto Alegre, virou moda suicídios no viaduto da Borges de Medeiros procedido da publicação da carta de despedida pelos jornais locais. O suicida enviava suas derradeiras palavras à Zero Hora e ao Correio do Povo e dirigia-se à ponte para o último salto. Parece que a notoriedade assegurada pelos jornais, encorajava.

Tenho evitado TV, jornais e revistas, é demais para o estômago. Além disso, fico desconfortável com essa sensação ruim de má influência comportamental. Tenho medo que essa modalidade de suicídio a la homem-bomba seduza outros olhos fracos e vire moda.

Um comentário:

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