20/06/2015

JOGO DE VAIDADES


Tudo começou com Messi. Não. A rigor, acho que começou com a onda dos cabelos estilizados, brincos de brilhante e tatuagens. Foi quando o espelho ficou mais importante que a bola. Foi quando a nécessaire Armani de cremes e perfumes substituiu o sacolão Adidas de camisetas suadas. Foi aí. É. Foi.

Mas estou falando dessa última semana, então, nesse caso a jogada começou com Messi. Ele havia apresentado sua lista de exigências ao luxuoso hotel em que a seleção argentina se hospedaria no início da Copa América. Suas excentricidades incluíam três jacuzis, uma cesta de basquete no quarto e uma piscina a exatos 28ºC. Entre outros mimos. Bem verdade que não ordenou toalhas brancas sob seus pés a cada passo dado, como Whitney Houston. O rapaz é simples. Ocorre que acabou se apegando à cama do hotel Serena Suites e declarou que dali não sairia até o final da Copa, não importando se as partidas se realizassem a 600 km dali, como a de hoje, em Viña de Mar, ou mais. Vire-se com a logística, delegação. 

Depois foi a vez de Vidal, craque da seleção chilena que deu show de poder ao destruir sua Ferrari e mais três carros, embriagado, após noitada num cassino. Negou sua culpa num primeiro momento porque caso se reconhecesse como um ser humano pecador, o Chile seria imediatamente decapitado do mapa. Logo depois parece que tomou um chá morninho de humildade e entendeu que ele e a nação eram pessoas diferentes, cada qual com sua história e identidade própria. Pediu até desculpas ao povo. Agora vire-se com os danos dos carros, seguradora.


Então, Neymar. Depois de passar todo o jogo contra a Colômbia em TPM, estressadinho com cada falha em campo (e foram muitas), ao ouvir o apito final chutou seu descontrole para todos os lados e ainda aguardou o juiz para sussurrar-lhe arrogância ao pé do ouvido: “quer ficar famoso às minhas custas, seu fdp”. Um espetáculo de virilidade. Parece que até sapateou de chuteiras depois. Boa, Neymar - valeu 100 pontos na carteira e quatro jogos de suspensão. Agora vire-se com o recurso, CBF. 

E paramos por aqui porque a semana já está no fim. 

Saudade do tempo em que jogador de futebol era um atleta, pelo qual torcíamos. Ele lutava por nossos gritos e aplausos, não pelos holofotes da mídia internacional. Era atraído pelo gol e não por seu próprio umbigo. O ritual era simples: ajeita a chuteira, sorri para a bola, cospe no chão. Agora é diferente: ajeita o cabelo, sorri para as câmeras, cospe na nossa cara. E vire-se com a inversão, torcedor.


2 comentários:

  1. Como não deixar minhas pegadas, você já as conhece.
    Sabe que não passaria por aqui sem dizer que também assinaria esta crônica.
    Deseja um olhar crítico, sem concessões, caro leitor? Sem pestanejar, passe por aqui!
    Mas não se engane! Não é só isso, nós leitores do Bicho blogue já conhecemos a sua versatilidade, Tati.
    Um abraço,

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    Respostas
    1. José, meu amigo!! Saudade dos seus comentários tão energéticos e estimulantes! 😄
      O Bicho está acordando aos poucos, mas já abre os olhos feliz por te reencontrar por aqui! Abraço

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