01/11/2012

Mandinga

No Dia de Todos os Santos



MANDINGA


Depois de maldizer os santos
racionalizar os fatos
desfazer quebrantos
recolher as flores, apagar as velas
demolir o altar e o querubim

Segurei com firmeza meu próprio pulso
sem batimento
e com a fé que dispunha
rompi em prantos e sem testemunhas
a fitinha do senhor do bom-fim

A partir de agora, não creio nem em mim

32 comentários:

  1. Cuidado, menina, o Pai Oxalá pode não gostar dessa atitude irreverente. De todo modo, como as fitinhas do Senhor do Bonfim são o resultado de uma indústria que prospera em todo país, pode seguir o seu caminho, inclusive com a bênção de um e de outro.
    Há os que dizem por aqui que se mandinga ganhasse jogo, o campeonato baiano de futebol acabaria empatado.
    Abr.

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    1. glup, corro perigo?..;)

      Sabe o que eu acho, José? Que a crença é livre e mutante, e a gente não precisa se "filiar" a nada, caso contrário, é opressão. Ou manipulação.

      um abraço-axé pra ti!

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  2. Quando a crença nos faz descrentes, talvez seja porque o que achávamos ser presente era uma verdade ausente do que não conseguíamos enxergar. No entanto, percorrer o caminho do sutil sopro intuitivo pode revelar tudo aquilo que estamos dispostos a buscar.

    Adorei sua descrição de bicho-blogue e a referência do filme "Where The Wild Things Are". Frenquentarei aqui mais vezes!

    Bjos

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    1. Gostei da definição, Larissa! Obrigada pela visita, sinta-se em casa, ela é nossa. Segui teu link e descobri tua poesia, tão sensível, tão bonita. Foi um lindo passeio.
      Beijo pra ti!

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  3. na boa? a religião é a maior invenção do homem.
    e daí nascem outras coisas, superstições, fanatismos... coisas assim.
    eu gosto de Deus. gosto do Deus de todo mundo. eu gosto até do Deus dos que desacreditam. mas esse sou eu.

    ps: o poema é ÓTIMO. adorei.

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    1. Também gosto dos Deuses, Roberto. Não vivo sem o meu. E, olha, conversamos muuuito. Tagarelamos, praticamente.;)
      Sou é contra os ícones padronizados e opressivos. Sou pagã e gosto da liberdade de culto, crença, idéias.

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  4. Conhece De onde vem a calma dos Los Hermanos?
    Quando terminei de ler o que escreveu me veio um trecho da música.
    "E no final assim calado
    Eu sei que vou ser coroado
    Rei de mim."

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    1. Legal a referência, Dani! Eu adoro Los Hermanos!
      É o mundo que anda hostil
      O mundo todo é hostil
      Eu vou ficar são
      Mesmo se for só
      Não vou ceder
      Deus vai dar aval sim
      O mal vai ter fim
      E no final assim calado
      Eu sei que vou ser coroado
      Rei de mim

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  5. Deus deve ter dado razão a todos esses atos. Agora, quanto a não acreditar mais em si próprio... Depois de pensar nisso com profundidade, estou começando a duvidar de mim, acho que ao longo da vida já me dei motivos para não acreditar em tudo o que me digo. Abraços

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    1. Paulo, é sempre bom duvidar um pouquinho de nós mesmos... rsrssr eu acredito e desconfio, acredito e desconfio, tudo junto ao mesmo tempo! ;)

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  6. Os deuses sem deus que não param de brotar! Tatiana, acabo de dar uma escarafunchada nesse seu bicho doido, gostei demais. Poesia de primeira, contemporânea, com esse comichão de desestabilizar que é necessário pra toda poesia. Grato pela visita ao Blag, e fiquei mesmo feliz com a descoberta da sua poesia. Vou voltar! E porque sou baiano encafifado com deus, e não-deus, e pós-deus, te mando um axé! Abraço!

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    1. oi Nilson, que bom que tu te deu bem com o Bicho! Não seria difícil, vocês devem falar língua parecida, essa tal poesia "quebra-vidraça".. rsrs
      Seja bem-vindo e obedeça as instruções, nada de veneno ao Bicho, ok? ;)
      abraço pra ti!

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  7. Tatiana, obrigada pela visita ao meu blog... e também pela mensagem carinhosa através do Wufoo. Vamos conversar sobre esse seu projeto sim!
    Meu e-mail: mercedeslorenzo@uol.com.br
    beijos
    Mercedes.

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  8. Tati

    Nunca amarrei a fitinha ainda que já tenham tentado amarrá-la a meu pulso.
    Uma vez um namorado dramático arrebentou a dele, aos prantos (pobre homem descontrolado) porque eu disse que preferia estar solteira.
    Desde então (e já um pouco antes) não me dava muito bem com elas.
    Aí, fui a Bahia e ganhei milhares e de todas as cores.
    Transformei-as em chaveiros e marquei as minhas malas com elas.
    Cada vez que viajo, quando minha bagagem surge na esteira, escuto o Zé Carioca me perguntando se eu já fui a Bahia rsrs
    Falando sério, não acredito em mandingas (até gostaria) porque santo é como peixe: sempre tem um maior para abocanhar um infiel.
    E se deus quiser falar comigo, há de falar em inteligível língua e com sabedoria.
    Se não for assim, prefiro que se dirija ao próximo da fila.
    beijoss :)

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  9. Sempre duvido de mim,
    mas não abro mão de uma mandinga.

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    1. rsrsrs
      no campo das crenças e desconfianças, vale tudo.

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  10. Duvidar nos salva, Tati...Todas as grandes entregas são precedidas de dúvidas profundas. Duvido sempre de mim. E assim aprendo a confiar em mim e no outro. Amei o poemaq Aliás, gosto muito de te ler. É pazeroso. Inteligência, sensibilidade, irreverência...
    .
    Beijos,

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    1. Tania, fico feliz, obrigada!
      Eu tb gosto muito dos teus comentários, e tua macro-visão. Adorei o preceito "Duvidar salva". Se tiver adesivo, vou colar no meu caminhão! ;)

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  11. Fuxicando os espaços acabei caindo aqui, talvez farejando alguma especiaria, algo que se coma com gosto e surpresa, coisa que todo bicho faminto deseja. Bem, de certo encontrei um banquete!
    Vou marcar o caminho, tudo mt bom
    bj

    meu espaço: http://umbecochamadocaminho.blogspot.com

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    1. Legal tua visita, Ira!
      vou sim conhecer teu espaço também.

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  12. Gosto desses altares em que os santos somos nós mesmas. E se não tens (temos) "um bom-fim", vamos ter um bom-começo??

    Belo poema, Tati!

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    1. Você comenta sempre no ângulo, Canto!
      Gosto de te ouvir. beijo!

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  13. Me lembrei de quando participei da comunidade do Orkut: "a nossa não arrebentou" se referia justamente as velhas e coloridas fitinhas de todos os santos, essas que incansavelmente esperamos arrebentarem por si só, mas chega uma hora que não dá, romper fitinha é romper para a liberdade, então que se arrebentem as regras, duvidar é abrir espaço para o novo.

    Poesia de primeira!
    Beijos meus :*

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    1. Assino embaixo, Carine!
      Gostei disso de arrebentar as regras, não tinha pensado.
      No fim ficamos com esses trapos amarrados e vai ver por isso a energia empaca. Vai ver. Sei lá.
      Beijo, guria!

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  14. gosto dessa sua relação com o contexto, quanta habilidade!

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  15. gosto dessa sua relação com o contexto, quanta habilidade!

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