24/05/2010

Alimentando o Bicho

Não que eu seja do tempo da pedra lascada, mas me atrapalho sim com as novas ferramentas da comunicação. É tudo linguagem, eu sei, mas.. vá saber onde apertar os botões pra chegar lá e dar o recado.


Eu prometi pra mim mesma: me relacionaria com os bichos virtuais por mais assustadores que fossem. Encarei Twitter, Orkut, Facebook, páginas interativas de cara estranha e... bom, manda o próximo aí. Esse tal “Blog” tem nome de cachorro fofo de estimação, nunca me pareceu ser dos mais perigosos. Comecei sozinha. Passei a mão de mansinho, dei um sorriso empático (de monstro pra monstro) e fui aos poucos. Bom, estamos quase confiantes pruma amizade mais íntima e prazerosa. Falta um tanto ainda pra ficar uma relação... ãnh, digamos, natural. Mas chegaremos lá se não precisar de pressa. Vou alimentar esse tamagoshi, prometo. Não será todo dia, também prometo. Ele não morrerá de fome, porque é forte e virtual e essa é a vantagem - nem o abandono o mata, quando muito, o desatualiza.


Ah!, e devo dizer que nem tem sido tão difícil assim. É bem verdade que estou tendo a ajuda preciosa (e precisa) do Enrico, o amigo-de-infância que instituí blog-maker sem dar muito espaço pro não - ele investiga, descobre e me traduz... e fica tudo mais divertido.

E também devo esclarecer que não quero mesmo alcançar um controle absoluto de nada, o que facilita o desafio. Só quero poder postar umas coisinhas, uns poemas, contos, opiniões, músicas, sem que o Blog regurgite, entende? Quero deixar bonitinho, encontrar uns links novos, conhecer outros bichos interessantes, trocar idéias e informações, ler, aprender. No mais, se o bicho me morder, tudo bem. Também é bom aceitar o indomável da vida. Conviver com o desconhecido dá um certo frio na barriga.

Under construction


Essa página aberta
como ferida
de pouco conteúdo ou ilegível
indefinida
emblemática ou cética
borrada nas bordas
preto-e-branco, semicolorida
doida varrida
doída ou curada
nada
ou nem isso

Não é piada de mau gosto,
é vida em construção.
Mãos à obra:
juntando a sobra
e fazendo o verão



23/05/2010

Reconhecendo o terreno


Tenho feito experiências.
Hoje realizei postagens sozinha, colei foto e tudo. Tá, tá, alguém iluminou o caminho. Mas juro que linkei os troços com minhas próprias mãos, ajustei tamanhos, espaços, fontes e tal. \o/ Uma garatuja e tanto prum pré-primário, pô.

Água em Pó


ÁGUA EM PÓ
(Tatiana Druck - Par e Ímpar)

que sede é essa
de si mesma
que nunca passa
que sede de mais
que entorpece
tonteia e afoga
pseudo-hidrata
afaga, esquece e mata
que sede é essa que engole e se engasga
bebe e não sacia
que gole é esse
que nunca desce?


Gostou da foto? E do poema?
Então visite o Blog foto-poético "Olhar Digitado",
com fotografias lindas de Enrico Benites e poemas inéditos de Tatiana Druck:

Montanha Acima



 






É longo o caminho
e a caminhada mais ainda

não procuro explicação
a razão é escassa
e o ar rarefeito

já não espero uma verdade
nem meia convicção

talvez um quarto a mais de coragem
e uma taça de vinho

Vamos assim,
tipo viagem

sem diário de bordo
sem malandragem

Olha pra fora,
conta as horas que já se foram

Vamos embora, em sublime elevação
um passo a cada mil

rasga o manual de instrução,
põe mais água no cantil


Somos

SOMOS
(Tatiana Druck - Par e Ímpar)


O que você quer ser quando crescer?
astronauta, vaga-lume, roqueiro, cigano,
casa sem número, bombeiro?
escavador, cientista, saltimbanco, suburbano,
espião, motoqueiro, beija-flor?
caçador de esmeraldas, apresentador de TV,
benfeitor, maloqueiro, inventor de sei lá o quê?

 

Vamos, vamos, é tempo.

Também vou retomar meus planos,
me encontrar com cinco anos e ser
furta-cor, astróloga, vegetariana, bailarina, ET, aeromoça, boneca de pano, equilibrista, menina-loba, feiticeira, sambista,
atendente de McDonald’s -
posso até virar um escândalo sem nome
e fugir com o circo num rompante insano


Vamos, é tempo de acertar nossos enganos.


Desatino




Tenho dois olhos.
Um é pra ver o que eu gosto.
O outro, cerrado,
eu empresto pro resto.

Negociação

NEGOCIAÇÃO
(Par e Ímpar)

Devolve o aquecedor
e a cópia da chave
deleta os torpedos
apaga meus recados
Engole a senha do banco
esquece o dia dos namorados
a lua de mel em Honolulu
quebra o incenso de Katmandu
passa a régua daqui pra trás
dá uma trégua
e deixa meu corpo em paz

...
Em troca eu prometo
tirar os espetos
do teu boneco de vodu




DRINK



DRINK
(Tatiana Druck - Par e Ímpar)




Troca esse copo
com gelo
por um gole de corpo
gelado?



Porta da Frente

PORTA DA FRENTE
(Tatiana Druck - Par e Ímpar)

Sai, não tenha medo,
ficam as portas abertas
de vidro colorido como juntos escolhemos.
Seguirão sem vedação,
talvez um óleo para não ranger,
não entortar o entendimento,
ou algum ajuste de manutenção,
quicá uma leve demão.

Assim quisemos: um revival dos anos setenta,
em vez de porta pivotante, sólida e pesada,
a de vidro boleado,
transparente,
dá pra ver em vultos,
transmite luz
e pode quebrar.

Vai,
te afasta sem medo,
nem mais, nem menos,
te ausenta.
Ao voltar, usa tua chave -
eu não trocarei o segredo.
Experimenta.
Se abrir, entra.
Só assim saberemos.

Arte: "Garota Mirando"- Eliana Guedes
 http://www.entreosdedos.blogspot.com/ 

Futuro do Pretérito











Tuas lágrimas ácidas
corroem o pedaço de mim que chora doce

não fiques assim, meu amor
meu irmão, meu estranho
louvemos a dor
precisamos

descobrir o que nunca nos contaram
como se contam as horas
e as histórias

onde estão nossos começos
e os outros pedaços
as coisas novas que nos acontecem
e os noves fora

precisamos escutar alguns hinos internos
respirar nosso silêncio
cuidar do entorno
dos sonhos
do dia que amanhece

precisamos tatear nosso contorno
desenhar os limites
encontrar o que nos remanesce

precisamos aprender quem fomos
para que a vida recomece


Passeando... par-ci, par-là.

Estou em fase de pesquisa.



Conheci um Blog que parece uma casinha bem cuidada, um lar. Tem calor, vida, aconchego, personalidade, bom gosto. E histórias lindas. Acho que senti cheiro de café. Me entendi convidada e então fui entrando. Passeei sem pressa, como num museu particular, entre objetos pessoais, pertences populares, pequenos contos instigantes, discretas notícias dos moradores, sugestões, músicas, dicas, um quadro aqui outro ali, cores. Parece estar sendo construído aos pouquinhos, como a vida. Parece ter muito amor e inspiração nesse lar. Eu gostaria, um dia, de ter um espaço assim, uma casa acolhedora e interessante como o http://www.bipedefalante.blogspot.com/.

19/05/2010

Ilha de Paquetá

ILHA DE PAQUETÁ

Se estive ali, nem sei
se é ilha ou é sonho
que de repente imaginei


Em poucas brisas percorro
praias, morros, paz
amigos e flores


Se é passeio de verdade, ou pura saudade
não sei, tanto faz,
que tal... amores?


Em todo o lado e sentido
escuto silvos e passos
provo sal e entendo mar


Se eu nunca voltar, não faz mal, já fui rei
pássaros enterrei em preces
recebi abrigo imperial


Se estive mesmo, não direi
não importa, afinal
há felicidade no ar quando anoitece

Descanse.
Se não for realidade,
é romance.

(Tatiana Druck - Prêmio Barão de Japurá - 2009 / RJ)

Pra quem quer nos compreender

Manual de compreensão rápida da mulher -
Capítulo 324, parágrafo 96, versículo 853: a bolsa feminina.

Não há mulher que não carregue uma bolsa, por mais discreta que seja. É um hábito de explicação antropológica simples. Lá na Idade da Pedra os homens eram caçadores; as mulheres, catadoras e coletoras. Então não filosofe demais, simplesmente entenda assim: a bolsa feminina é um utensílio fundamental para a mulher cumprir seu papel na história humana.

Mas, atenção, apesar de ser um instrumento originalmente de trabalho, não nos mande catar raízes e frutos para o almoço, a vida evoluiu. A bolsa hoje faz parte da nossa personalidade. E você também não precisa matar javali pro jantar.

Entenda por que andamos com essa coisa a tiracolo, grudada no corpo como bebê em fase de amamentação. Ela tem nome, e será tão defendida quanto nossa melhor amiga. Então não chame uma bolsa feminina de sacola, seu primata desorientado. Você não gostaria que chamassem seu calibre 38 de tacape.

Observe por aí: a tendência moderna traz a incrível, maravilhosa e enorme maxibag. As maxibags são praticamente cavernas! Ali dentro cabe tudo, até a pia da cozinha. As bolsas pequenas obrigam a mulher a escolher entre levar o batom ou a chave de casa, e ela carrega – óbvio - o batom. Nas maxibags entram batons de três tons, o gloss e toda linha de cosméticos, o secador de cabelo, escova de cerdas de alce canadense, pílulas de vitamina e afins, creme hidratante para mãos secas, uns carnês, algum casaquinho para o caso de esfriar, e ainda dá pra acomodar o celular (inclusive o seu). O problema é quando toca o celular e temos que mergulhar dentro da bolsa. Há o risco de se espetar no alicate de unhas ou topar no ferro de passar roupa que deixaremos no conserto no dia seguinte.

Dá pra imaginar também o grau de invasão que é mexer na nossa bolsa? Abrimos facilmente o coração, abrimos espaço na agenda apertada, podemos até abrir as pernas sem maiores delongas, mas as bolsas, não, não e não. Não ouse entrar na intimidade das nossas bolsas sem ser claramente autorizado. Podemos ficar primatas de repente e atacar com as unhas (vermelhas, claro, que a evolução trouxe novidades e cores).

Você finalmente haverá de nos perdoar, então, por gastarmos um troco além do razoável para ter várias bolsas, de diferentes cores, tamanhos e materiais. Sabe, quanto mais diversificado o estoque, mais marcante e intensa fica a nossa existência. É instintivo, precisamos estar quites com nossa porção pré-histórica. Posso imaginar a mulher paleolítica arrancando sorrateira e discretamente uns pedaços da cama de bambu do seu amado, para cerzir uma nova bolsa esportiva e ecologicamente correta. Deveria ser perdoada.

Acaso instinto primitivo tem a ver com razão? Não venha agora, após seiscentos mil anos, questionar a importância das nossas bolsas. Há um mundo ali dentro e uma história por trás. Use seu raciocínio masculino objetivo e evoluído e simplesmente aceite. Já aproveite pra guardar ali sua carteira. Mas de olhos fechados. E com cuidado pra não se machucar no estilete que deve estar num dos compartimentos da esquerda.

Tatiana Druck
Crônica - 2o lugar Concurso Mário Quintana 2009