27/09/2010

Inimputabilidade



Tá, vou ter que dividir essa. E encher a boca do Blog-filhote de alfafarelatos, já que nada mais me surge senão falar da vivência, que têm sido tão, tão, digamos, transbordante de acontecimentos e, juntando isso com o trabalho, quase não dá tempo de pentear o cabelo, o que dirá criar ficção. Então é o seguinte: a história é do meu aniversário de quarenta (credo, quarenta???) e se passa na Bahia. É que não foi só um dia de aniversário, foi uma semanona de comemorações, tipo semana da pátria. Me sinto uma instituição. Tá certo que quarenta a gente não completa todo dia, só quando chega no primeiro terço da vida, mas, por mim, as pessoas fariam semanário de aniversário todo ano, e em qualquer idade. Bem, deixemos isso prum bom projeto de lei pós-moderno. Como eu ia dizendo, visto que a alegria encompridou-se por uma semana, e eu vivi muitas, mas muitas descobertas mesmo, fiz um diário. Tipo aqueles dos doze, treze anos. E vou colocá-lo aqui, na boca do bicho, dia por dia, em ordem cronológica, a começar pelo dia 11/09, quando tudo começou, em “A Metamorfose” (ou “o velho truque de mudar de idade mudando a latitude e a atitude”).
Uma prima assegura que envelhecer é bom porque a cada ano vamos ficando mais inimputáveis. Acho que a gente vai podendo mais, mesmo. Fazer, falar, decidir,comer, pensar. Compensando a quantidade de desvantagens (sim, porque sem essa de que “tá tudo cada dia melhor”, porque não é bem assim; há coisas melhores e outras mais caídas e murchas - sem hipocrisias), voltando ao assunto: pra compensar as desvantagens, acho que a cada ano a gente deve menos explicações ao mundo. Chega uma hora em que a gente pode tudo, até arrotar alto sem medo de ser multado. E isso não deixa de ser uma forma de rejuvenescer. Acho que foi isso que a prima quis dizer com inimputável. Bom, minha caminhada oficial rumo a inimputabilidade começou, então, no dia 11, com o velho truque, aquele.

26/09/2010

roooonc...

Eis que o bicho acorda com a barriga roncando de fome e reclama da quase-inanição. E eu, com dor na cabeça-tronco-e-membros, toda gripada como nunca, digo que não, mas logo lembro que andei comendo tanto ultimamente, e tão gostoso, que fico culpada e levanto toda errada pra fritar um ovo, que seja. Mas bicho quer posts, palavras e mais palavras, está faminto. Com razão. E hoje é domingo. Vou ver o que consigo num rápido preparo de forno ou fogão.

11/09/2010

Metamorfose (ou "a velha receita de mudar de idade alterando latitude e atitude")


Tinha uma coisa estranha que cutucava no pé todo o mês de setembro. Começava com uma leve cócega, e mal percebia. Mais uns dias e sentia produzir uma dose extra de melanina que pigmentava ao redor e a partir daí ardia. Dali a pouco rompia derme, depois epiderme e todas as barreiras físicas. Então brotava uma pontinha. De cor branca, parecendo pluma. De repente, irrompia uma asa no pé. Ela, então, partia.


Todo setembro nascia um pé de vento que soprava na direção norte, rumo à Bahia. Era um modo de renascer, e não apenas aniversariar.

03/09/2010

As Meninas

Neste cenário onde todos os olhos são opacos, inquietos e corriqueiros, vejo minha angústia em pelo menos dois pares deles. O cachorro se faz de surdo, impassível. Não bule. Não se incomoda nem com o pé do menino que lhe perturba em cutuques extremos. Pensa em morder uma perna de criança, rosnar, latir, mas fica ali, refém de suas próprias pulgas. - Incomodo este cachorro, porque estou incomodado comigo mesmo. Tento acordá-lo porque nunca durmo. E os reinados ali, adjacentes, circunvizinhos, cada um no seu território humano, às vezes canino.