Pode
me chamar de emotiva, exagerada, nostálgica, patética, histérica. Sou tudo isso
e um pouco mais, muito prazer. O fato é que sofro com as perdas. E esse ano começou
pesado. Está desabando, peça por peça, o dominó da minha memória. Primeiro
foi o Jornal “O Sul”. Há anos eu estava apegada aquele toque, ao movimento
matinal de folhear, ao cheiro de página, entende? Pergunte-me se fui buscar a
versão digital. Nunca mais!
Depois
foi o Plazinha - um hotel que hospedou o glamour da cidade desde 1958 e que,
para minha geração, significou o programa descolado-chic da feijoada aos
sábados no centro. Pois ontem o Plazinha também bateu as portas na cara da nossa
memória.
Agora
veio essa: dia 18 de maio teremos que nos despedir da Rádio Ipanema. Já foi
duro aceitar, em 1999, o abrupto calar da voz de Kátia Suman, que comandou meu ritmo
musical nos anos oitenta e noventa. Agora vão desligar a rádio toda?!? Diz a
notícia que depois de 32 anos de história, a Ipanema estará “migrando para o
mundo digital” - que deve ser aquele lugar onde colocam as coisas obsoletas de
castigo. Ali, entre a vitrola e o pinguim de geladeira. O quê? O pinguim já se
mandou para a Antártida?
Ouça
a próxima: estive na Vivi Vídeo (onde vou há 29 anos locar “fita tape”, depois dvd, então blu-ray, e onde achei que logo pediria por um archival disc) e encontrei a placa: “Vamos fechar! Compre seu filme
por apenas R$12,00”. Se até a Vivi Video está indo dali, o que me garante que de repente não sumirá
o Moinho de Vento do Parcão?? (que, aliás, já foi hipódromo e estádio de
futebol...)
Deem
explicações e tempo para absorvermos as mudanças radicais. Deem assistência,
consolo, colo. Não se pode derrubar as peças assim, sem um colchão emocional. São
vínculos fortes.
Estou
arrasada. Sem chão. Sem pernas. Sem fé no futuro.
Prepare-se.
Parece que até o clássico Gre-nal está ameaçado: andam juntando as torcidas, um
troço misto, e daqui a pouco tudo ficará lilás.
E,
dizem, vai faltar água no Rio Guaíba.
Só
resta anunciarem que o aeroporto Salgado Filho fechará e seremos tele transportados para
um lugar melhor. Eu fico! - inarredável, amarrada, agarrada na última pedra de memória.