Há o tempo em que basta gritar manhê e a dificuldade fica instantaneamente resolvida: uma mão rápida para levantar, curativo na coxa, nescau quente de manhã, aquela brincadeirinha para aliviar a frustração, revisão antes da prova, beijinho de boa noite, essas coisas de mãe. Mãe atende a pedidos de socorro como se fosse garçom de bandeja na mão. Os 10% de gorjeta são contingenciais: só o fato de ser mãe quita a existência e gratifica as horas-extra. Ver o sorriso de uma criança, a felicidade do seu pimpolho, ah, esquece, isso nem o master card paga.
Aí um belo dia os filhos crescem e os pedidos ficam um pouco mais complexos: um aval no crediário, alguns importantes conselhos, o ombro amigo na hora das desilusões, aquele estímulo convicto do tipo ninguém é melhor do que você, meu filho, uma ajuda na escolha do vestido, na decoração da casa, na arrumação da mala, na mudança. Mãe passa a ser um cheque especial: está ali para quando você precisar, conte com ela. Os juros não serão cobrados. Acompanhar o crescimento e a realização de um filho remunera a alma.
Lá pelas tantas a gente também vira mãe (ou pai) e o socorro vem de outro jeito: mãe quebra um galho como baby-sitter adocicada dos netos, professora de temas aleatórios, conselheira catedrática, vira amiga, companheira, vizinha, guarda segredos. E ainda rola um cafuné. Mãe é mais torcedora do que técnica, é mais carta na manga do que número de mágica, fica na contemplação, na retaguarda, de reserva na casamata: você tem meu número, se precisar liga.
Então chega, ao fim, o dia em que mãe vira lembrança: não pode mais ser abraçada, não prepara a ceia de natal, não troca idéias, não aparece no domingo, não assopra pelo telefone aquela receita de doce, não segura mais a barra. A vida deixa de ser tão fácil e garantida, e nem tem a mesma graça. Não dá para gritar manhêêê como se gostaria, mas você pode senti-la. Você sabe o que ela diria nessa e naquela hora. O DNA dela está ali, impregnado - dá para saber que mãe você teve só pelo seu jeito de sorrir, pelo tom que lhe soa um choro de bebê nos ouvidos. Você a tem. Ela não está ao alcance da mão porque está inteiramente dentro de você.
Que lindo!
ResponderExcluirRealidade e poesia sem coitadices.
Um beijo e parabéns pelo dia das mães;
Dinorah
Lindo texto, Tati. Me fez lembrar dos momentos em que minha própria mãe me acode... em sonhos! Bjs., Flávio.
ResponderExcluirQue lindo, Tati! Fiquei com vontade de sair correndo e abraçar a minha mãe, que segue por aqui... E fiquei feliz porque no sábado passado pude abraçar a tua mãe, que na nossa adolescência foi um pouquinho minha também.
ResponderExcluirBj
Paula