Eu gostaria que fossem mulatas, mas são muletas, minhas companheiras de carnaval. Azuis, de tão retintas. Duras, frias, disciplinadas. Elas não sambam - tão mais pra soldados ingleses do que pra rainhas de bateria. Sua missão é garantir meu equilíbrio, minha segurança, sem muito papo. Decidiram que assistir aos desfiles de carnaval pela TV, sentada no sofá, já estaria bastante arriscado pra mim. E vetaram a caipirinha, olha só. Pelo menos me deixaram dormir tarde.
Assistimos na telinha a todos os desfiles. Elas ali, de sentinela.
Pode ser impressão minha, mas achei que o carnaval está mais hightech do que nunca. Painéis gigantes de led, chãos de estrela, vestidos que piscam-piscam-e-trocam-de-cor, edifícios-alegóricos. Só faltava a bateria não ser mais acústica. Tudo tão pós-moderno... Se o príncipe Charles volta ao Rio aposto que perde seu rebolado.
Sem poder sair do lugar, vi até os desfiles gaúchos. Já desfilei no sambódromo de Porto Alegre (e também na Sapucaí), então pude perceber a evolução do carnaval do sul este ano: os grandes animais dos carros alegóricos até já abrem e fecham a boca. As baianas são cariocas. E teve uma escola que recrutou dezenas de romanos para desfilar numa ala. Investimento pesado. Tava lindo, tchê. Agora é só regularizar essa imigração toda.
Não me impressionei com as fantasias, invejei foi os bumbuns. Esses também estão mais tecnológicos: zero celulite, zero caimento (dez, nota dez, na evolução) - deve ser coisa de novos hormônios lançados por aí. Fiquei pensando civicamente: todas nós, brasileiras, deveríamos ter direito, na cesta básica, a um bumbum de passista. Vou escrever pra Dilma.
Sabe o que? Percebi um quesito que não acompanhou a evolução dos tempos: a encenação do mestre-sala com a porta-bandeira. Cortejo é coisa de antigamente, nas minha contas. Contudo, não é que aquele homem segue ali rodopiando a moça, rodopiando, flertando-a incansavelmente na avenida, e ela se fazendo? Sim, vira a cara para o galanteador como se estivesse nos anos trinta com um leque na mão. Ora, para ser mais atual, a Porta-Bandeira deveria se atirar no colo do Mestre antes mesmo de começar o desfile, lá na concentração. Vou escrever pro Carlinhos de Jesus.
Muito bom! E coberta de razão!
ResponderExcluirProfe! Que bom te ver por aqui!
Excluirbeijobeijo
Muito bom amiga! Ano que vem voltaremos a passarela!
ResponderExcluirPS: sem as muletas! Só com as mulatas! Beijo
Sim, Fer, com mulatas e com samba-enredo próprio!!!
Excluirbeijos carnavalescos
Seria tão bom se pudesse rosetá como diz a música, mas já que não foi possível, nos doar essa croniquinha maravilhosa, porque você sabe com quantos paus se faz uma canoa, já é uma boa!
ResponderExcluirAbração,
Ah, José, teus confetes, sempre coloridos! :))
ExcluirAbração!
Judiação!
ResponderExcluirPara quem já sambou tatos carnavais não deve ser bolinho ficar sentadinha na frente da TV. Eu, ao contrário, desfilei no bloco da melhor idade, percorri alguns quarteirões, levei dois dias para me recuparar... véia é assim mesmo, até carnaval na tv dá dor nos olhos. Com relação a porta bandeira, deve ser a unica da escola que não pirigueteia, pelo menos na frente das câmaras. (adorei as mulatas/muletas)
beijos
fafa
Óh, Fafazinha, dois quarteirões já é quase um Itacaré inteiro! rsrs
ExcluirEu fiquei no sofá este ano, mas muito bem acompanhada do maridão, que é um super parceiro.
Beijo procês!
O progresso deixa tudo mais industrializado, e é claro que isso chegaria até as cabrochas. Carnaval nunca me apeteceu e nem essa coisa toda de pira, pirá, pirô! Nos tempos de agora então, menos ainda. Minhas muletas para esses momentos são os filmes. Minha folia está em pôr em dia o cinema-arte, onde se encontra aqueles que assim o encaram e verdadeiramente nos encantam.
ResponderExcluirQue maravilhosas muletas tu usas, Lari! A companhia dos filmes é das melhores.
Excluirbeijin
Já estive aqui umas 2 ou 3 vzs, mas na hora de comentar... o grito da neta: vóoooo vem cá! e lá vai a Ira brincar de massinha ou senhor cabeça de batata (brinquedos modernos), mas não tenho como negar essa exigência com cara de vigaristinha tão amada.
ResponderExcluirOlha, Tati, eu confesso que, nos dezembros bons, o bumbum era praticamente de mulata (das antingas), agora uma cesta básica turbinadinha, nos dias atuais, não seria nada ruim. Ligarei pra Dilma pra reforçar a exigência.
Vc é uma danada, com ou sem muletas, da show na avenida das letras
bjão e boa recuperação
Ira, querida, mesmo para os derrières em dia, todo o exercício é válido! Isso inclui brincar de massinha e Mr Potato Head, desde que fiques de pé fazendo agaixamentos repetidos, Aproveite! :))
ExcluirBeijo pra ti, guria
ainda que pela tv e na pleura das madrugadas...
ResponderExcluirtem uma galega no samba (rs)...
só no entendi isto do veto à caipirinha.
se esssas muletas tiverem mesmo este poder, quero emprestadas, ao fim da sua relação com elas.
quera que elas me ventem de comilanças e "bebelanças" e que me me obriguem a me exercitar pelo menos 5 vezes por semana.
ah, sim... se não quiser e emprestar mas topar vender, é só dizer o quanto custa, que vou ver se tenho o sufuciente pra comprar.
ô, na boa?
o carnaval ja foi tarde.
beijão,
r.
Roberto,
ExcluirEu já larguei as muletas - são todas tuas. Mas... vais ser louco de se meter com essas tiranas?
São duras na queda, quem avisa amiga é.
Não quer pensar mais um pouquin?
O carnaval tem essa mistura de raças é uma festa que se tornou a marca do país.
ResponderExcluirAs mortes de Santa Maria aumentaram e ninguém comentou...
Essa festa maravilhosa recebe demasiada atenção.
Mas como canta os Hermanos: "todo carnaval tem seu fim."
E eu digo, que bom.
Beijos. rs
É, Dani, tudo que é demais cansa.
ExcluirAbaixo os exageros!
Bom dia, Tatiana!
ResponderExcluirDa avenida ao bumbum de quem passa, a modernidade não perdoa.
Da comodidade ao preço que se paga, estão trocando a naturalidade das coisas por efeitos programados.
Em tuas mãos as palavras desfilam e no repique dos teus pensamentos sambam graciosas, serelepes, com gingado.
Ôh abram alas para tua palavra passar!
Maravilhosa crônica!
Beijos meus