10/07/2015

O NOVO CAMINHO DAS ÍNDIAS

Auditório da escola lotado de adolescentes de quatorze a dezesseis anos. 

Lá pelas tantas, o jovem poeta palestrante observa que a novíssima geração de leitores se encanta é com a poesia que cabe no Bloco de Notas do IPhone. Risos cúmplices da plateia.

E que a poesia curta funciona porque... meio que explode uma emoção, tipo assim, soco no estômago.

E ainda: que se a reflexão proposta no poema for despretensiosa e aventureira, então falará direto ao espírito livre da juventude. Ilustrou seu pensamento: enquanto Os Lusíadas apresenta uma viagem poética gigantesca, Paulo Leminski oferece uma rota curta e divertida: “não discuto/ com o destino/ o que pintar/ eu assino”. E é por essa trilha que a garotada vai preferir caminhar.


Hoje Guilherme Becker falou mais como porta-voz de uma geração de leitores do que como escritor. Do alto dos seus 18 anos citou Tumblr, Facebook, Twitter Instagram, como ferramentas básicas de input cultural contínuo. Traduziu o anseio dessa turma que lê simultaneamente cinco mídias no celular enquanto ouve música, dá risada e toma um suco. E olha que Guilherme é uma exceção que, além dessas ferramentas, ainda consome cerca de 70 livros de papel por ano.

É preciso ouvi-los para saber o que efetivamente ouvirão.

Por isso fiquei ali quietinha, fingindo que estava filmando quando, na verdade, aprendia.

Não anotei no bloco de notas porque sou do tempo da cadernetinha. Mas levei pra pensar durante o dia.

Sempre achei a poesia uma arma com a cara da nova geração. Porque se apoia na metáfora, que nada mais é do que uma abreviação, uma imagem aberta ao intérprete. Com pouco, se diz muito. E a mensagem aparece à jato, como eles. Tudo o que o jovem quer é chegar logo. E logo partir pra outra.

Como ouvinte, aprendi que essa gurizada não vai engolir tratado sobre assunto algum. Nem quer amarrar com muita força sua opinião - que, inclusive, poderá mudar dali a cinco passos. O mesmo tempo, aliás, que levarão para ler mais dez ou vinte coisas novas. Nunca se leu tanto.

A diferença é que na época de Camões, era aceitável narrar uma epopeia em 8.016 versos. Havia leitores para tanto. Hoje, ou você dá seu recado em 140 caracteres, ou a plateia digital se esvazia. 

Leminski, em Não Discuto, cuspiu a libertação em dez palavras e abriu passagem. Vamos em frente. Parece que esse atalho é o verdadeiro Caminho das Índias de hoje.

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