21/07/2015

O SAMBA DO COLONO DOIDO



Pegamos a estrada para a serra. A ideia era sair da rotina. Comemorar o primeiro fim de semana de férias dos filhos com programa típico do nosso inverno.

Passando o pórtico de Gramado vimos uma família encarangada com casaco, luvas e gorros, tirando foto em frente ao totem que marcava a temperatura: 19 graus. Certo que turistas do nordeste.

Daí pra frente o trajeto foi como mesa de café colonial: salsichão com schimia de morango; um palhaço em perna-de-pau dividindo calçada com a Coelha que distribuía balas de menta coladas em panfletos. O Museu de Cera disputando clientes com o Fondue de Queijo. Cinema 4D e Chocolate Artesanal. Malhas feitas a mão e Mundo a Vapor.

E ali perto, na Aldeia – um alce branco alertava na placa - mora o Papai Noel e sua turma.

Meu filho comentou: “Gramado anda bem randômico, né?” Achei a expressão um tanto sofisticada pra definir aquela muvuca toda. Era pra ser um lugar bucólico, de colonização alemã e italiana. Não uma disneylandia serrana tomada por carros de som convocando para o Harley Motor Show. Onde estão as araucárias? E as hortênsias? E os Quatis? Até o Lago Negro ganhou imponentes chafarizes.

Fiquei preocupada com a falta de coerência cultural na cabeça dos pequenos. Como explicar que ao lado da Cascata do Caracol fica a Montanha Nevada? E que aquele calorão não estragará o plano de patinar no gelo? - Crianças, vamos ao zoológico ver a Onça Pintada em extinção e na sequencia visitaremos os já extintos Dinossauros (que aliás parece que reviveram e invadiram a serra). Socorro.

A cada esquina tem um ponto diferente pra tirar foto bizarra. Como a turma de bruxas com cabeças vazadas para colocar as nossas. Um chimarrão gigante jorrando água. Um búfalo selvagem típico do noroeste canadense em frente à loja de couro. Um cavalo em tamanho real com um gaúcho a pleno galope - ambos empalhados.

“Era pra gente sair da rotina, mas Gramado é que saiu, né?”. De novo meu filho e suas interrogações enigmáticas. Achei o comentário um tanto cabalístico pra definir aquela aberração. Mas seguimos observando. Uma locomotiva de trem caindo para fora de um prédio. Índios apaches. Um museu medieval. Um mini mundo. A cidade toda mais parece uma maquete feita de biscuit.


Bom, a ideia era sair da rotina. Acho que deu certo. Trenó montanhês x Harley Davidson; Mambembes x Mamãe Noel; Coelho da Páscoa x Tiranossauro Rex; a gente só veria em Las Vegas. A preço de euro. E nem teria salsichão com schimia de morango.

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