Gosto de
desafiar meus filhos com uma brincadeira que tem revelações filosóficas
interessantes. Pergunto: se você tivesse que escolher uma só fruta para comer a
vida toda, qual seria?
Pode parecer
simples, mas responder ‘morango’, ‘uva’ ou ‘bergamota’ é algo bem desesperador
(mesmo que em hipótese), porque todo exercício que pressupõe exclusões gera o
imediato sentimento de perda, além do medo de errar. Ou você jura que passaria
tranquilinho o resto dos seus dias à base de jaca?
Outra: se tivesse
que se vestir com a mesma cor para o resto da vida, qual seria? Até soa fácil. A
gente se imagina de azul, respira requintado e confiante por alguns minutos, mas
de repente não, não, socorro, faltará alegria. Aí lembra do vermelho - vibração,
chama, sedução, yes! - mas logo conclui que a coisa ficaria russa com tanto excesso
de personalidade. A resposta mais confortável nesse caso tem sido ‘branco’, mas
mesmo ele, todo limpo, todo santo, todo em paz, é a nítida lacuna das cores – e
diga aí, quem se veria feliz assim tão puro e imaculado por toda uma
existência?
É engraçado
pensar. E brincando, brincando (literalmente), dizemos as maiores verdades.
Por isso, proponho
como brincadeira para esse Dia dos Pais a pergunta mais difícil do nosso
questionário caseiro: com qual palavra
você descreveria seu pai? A dificuldade está na síntese, pois reduzir
qualquer pessoa a um só vocábulo é impossível, imagine sendo ela o seu pai. Mas
tente.
Já fiz meu
exercício.
Antes de tudo,
devo esclarecer que na brincadeira familiar sou aquela que pensa ‘banana’ mas
responde ‘laranja’ com medo de faltar líquido na opção da fruta. No quesito
cor, escolho ‘cru’ quando na verdade gostaria de dizer ‘amarelo’ – meu pigmento
preferido. Assim, a expressão com que eu própria me identifico bem que poderia
ser ‘dúvida’ (que é um conceito, aliás, que adoro, pois contém o sábio princípio
da filosofia), mas acabo me traduzindo como ‘agridoce’, que é um termo meio em
dúvida sobre si mesmo.
Então, para o
meu pai - uma pessoa tão maravilhosa quanto complexa - tive muita dificuldade em
encontrar a locução certa. Busquei entre seus adjetivos os mais fortes pra mim:
protetor, carinhoso, inteligente, sensível, dedicado, generoso. Diversos
atributos poderiam definir meu pai. Gostaria de escolher vários, mas a
brincadeira é concentrar-se em um só, então penso que ‘integridade’ o representaria bem.
No substantivo
‘integridade’ múltiplos traços (tão próprios dele) estão embutidos: o caráter,
a justiça, a honestidade, a coerência, o juízo, a confiança. Meu pai é
conhecido entre os amigos por ser aquele com quem se pode jogar par-ou-ímpar pelo
telefone. Não precisaria dizer mais.
Mas como sou
movida a dúvidas e emoções, escolhi para o pai a palavra mais clichê deste dia:
Amor.
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